Conhecendo a Não Monogamia

aqui te convido a conhecer um pouco mais sobre a não monogamia e suas diferentes faces.

NÃO MONOGAMIA

Thata

9/4/20254 min read

Eu sempre tive um profundo interesse sobre o amor, não só em viver um grande e eterno romance, mas principalmente em compreender por que a nossa vida - ou pelo menos a minha - era tão afetada e direcionada por esse sentimento.

A primeira vez que ouvi sobre não monogamia foi por meio de um psicólogo que tentava exemplificar como a minha felicidade nas relações poderia vir de muitos lugares diferentes. Havíamos identificado que, assim como tantas pessoas antes e depois de mim, eu colocava meu namoro em uma posição central na minha vida, gastando nisso toda a minha energia - que, honestamente, poderia ser distribuída de forma mais equilibrada.

Gostaria de dizer que foi aí que tudo mudou, mas a verdade é que eu ainda precisei de bons anos para entender o que aquele psicólogo me dizia, e começar por conta própria a me aprofundar na não monogamia, buscando de que forma aquilo fazia sentido para mim.

1. O que é não monogamia?

De início, o que aprendi foi que não monogamia é um termo guarda-chuva, que não representa um tipo específico de relação, mas diversas formas de estar com o outro, estruturar essas trocas e nomeá-las - ou não. Esse termo fala sobre relações que fogem à norma monogâmica e, mais do que isso, se refere a pessoas que buscam relações feitas “à mão”, construídas a partir do encontro, e não da ideia fixa do que deveria ser.

A não monogamia valoriza a comunicação aberta, a transparência, o consentimento mútuo e o respeito às trajetórias individuais. Por mais assustador que possa parecer, para algumas pessoas, se relacionar de forma que fuja ao roteiro tão conhecido, outras se sentem particularmente nutridas pela possibilidade de criar algo artesanal. Segundo a pensadora indígena Geni Núñez “enquanto a monogamia se impõe como único modelo válido no planeta, a não monogamia não deve ser vista como um outro modelo, mas como um não modelo”, um convite para a criação de relações singulares e acolhedoras.

2. Breve passeio histórico

A monogamia vem sendo reforçada como norma social e religiosa desde a Idade Média. Sob influência direta do cristianismo, forneceu ao longo da história referências claras sobre com quem, quando e como relacionamentos deveriam acontecer. Durante o colonialismo, essa visão também foi imposta aos povos invadidos, explorados e “catequizados”, criando regras que ainda se estendem e influenciam a forma como grande parte da nossa sociedade se comporta.

Apesar de existirem registros de práticas poligâmicas em diversas culturas antigas, foi apenas em meados do século XX, com os movimentos sociais pela liberdade sexual, que a não monogamia surgiu como uma alternativa consciente à ideia tradicional de que o amor, para ser verdadeiro e reconhecido, deveria ser exclusivo entre duas pessoas dentro de parâmetros muito específicos. Grupos que defendem relações não monogâmicas consensuais têm se organizado e ganhado cada vez mais espaço na nossa sociedade atual. Seria esse um indício de que estamos nos tornando mais compreensíveis e flexíveis em relação às formas de amar?

Atualmente, os debates sobre não monogamia passam por questões políticas e éticas, considerando intersecções de raça, gênero, sexualidade e classe. Propõem uma mudança profunda na forma como vemos a vida e organizamos nossas relações, buscando garantir que pessoas não monogâmicas tenham a mesma validação social e legal oferecida a pessoas monogâmicas.

3. Por dentro do guarda-chuva

A não monogamia acolhe em si uma vasta gama de possibilidades contidas em tudo aquilo que foge ao esperado. Para se orientar, algumas pessoas buscam definições já existentes, enquanto outras preferem justamente a liberdade de se relacionar sem rótulos. Entre algumas formas de não monogamia estão:

• Não monogamia política (NMP): Mais do que uma forma de se relacionar, é um posicionamento político. Busca transformação social, resistindo ao patriarcado e ao capitalismo, estruturas intimamente ligadas à monogamia. Desafiando normas tradicionais de posse e exclusividade, transforma relações afetivas em possibilidades de luta e libertação.

• Não monogamia ética (NME): Propõe a prática de relações não monogâmicas de forma ética, com transparência, consentimento e comunicação aberta entre todas as pessoas envolvidas.
Alguns criticam o termo “ética”, por sugerir que a não monogamia seria originalmente não ética, preferindo usar apenas “não monogamia”.

• Anarquia relacional: Inspirada no anarquismo, defende o rompimento com todas as hierarquias - inclusive entre vínculos. Questiona, por exemplo, o valor central atribuído aos relacionamentos romântico-sexuais em detrimento de amizades e relações familiares.

• Relações livres (RLi): Movimento surgido nos anos 2000, em Porto Alegre. Organiza redes estaduais que buscam enfrentar paradigmas monogâmicos e sustentar a liberdade afetiva e sexual.

• Poliamor: Permite múltiplos vínculos amorosos, de forma honesta e consensual, com acordos construídos a partir das necessidades e limites de cada pessoa envolvida.

• Relacionamento aberto: Debatido dentro da comunidade: algumas pessoas o veem como parte da não monogamia; outras, como extensão da monogamia, já que muitas vezes a abertura se dá apenas no campo sexual, mantendo a centralidade e exclusividade afetiva de uma relação principal.

• Swinging: Prática na qual casais trocam de parceiras/os com outros casais ou indivíduos, de forma consensual, geralmente em contextos específicos. Foca na liberdade sexual, mantendo a exclusividade emocional - por isso também é vista como forma de monogamia estendida.

Agora você sabe um pouco mais sobre a não monogamia, por que ela existe e os diferentes formatos que pode assumir. Talvez o mais importante de tudo seja levar consigo que a não monogamia oferece possibilidades - e, se nenhum dos modelos mencionados fizer sentido para você, é sempre possível construir algo próprio, trilhando seu caminho rumo a relações mais gentis e honestas.

Reconhecer-se como pessoa não monogâmica pode exigir muito de nós, já que nos convida a uma reflexão profunda sobre quem somos no mundo e como queremos experienciar o amor.
Aqui no s
ite, você encontra mais conteúdos sobre os desafios de ser não mono e, como psicóloga especializada, também ofereço cuidado individualizado e sensível às necessidades de cada consulente. Espero que encontre neste espaço o apoio que busca na sua jornada.

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