Não Monogamia e Ciúmes
aqui te convido a pensar de uma forma diferente sobre essa emoção complexa.
NÃO MONOGAMIA
Thata
12/17/20255 min read


Se a não monogamia fosse algum tipo de apocalipse, o primeiro dos quatro cavaleiros a anunciar sua chegada definitivamente seria o ciúme. Há quem ache essa a parte mais difícil da não monogamia, quem tenha deixado de ser não mono por esse motivo e também quem nem mesmo queira tentar ser, só para não ter que lidar de forma tão intencional com essa emoção. O que muita gente parece demorar para entender, ou talvez nunca entenda, é que o ciúme não é seu inimigo. Mesmo sendo pintado como vilão de tantas histórias, assim como todas as nossas emoções, o ciúme tem o poder de nos ensinar muito sobre nós e sobre as nossas relações, se permitirmos.
Observamos desde muito cedo que, enquanto certas emoções são exaltadas e até mesmo buscadas incansavelmente, outras devem ser evitadas a todo custo. Isso gera em nós, de forma coletiva, a ideia de que emoções são, em sua essência, boas ou ruins e, sendo assim, de que nós somos bons ou ruins conforme entramos em contato com elas. A consequência disso, diante do ciúme, é que não sabemos lidar com o que ele acarreta: não temos ferramentas para nos regular, acolher e compreender o que estamos sentindo, tampouco para dialogar sobre isso, de forma não violenta, com as pessoas com quem nos relacionamos.
O ciúme na não monogamia
A necessidade de aprender a acolher o nosso ciúme não é, ou pelo menos não deveria ser, uma exclusividade de pessoas não monogâmicas, visto que todos nós temos acesso a essa emoção e poderíamos nos beneficiar dessa maior compreensão. Ainda que existam diferenças fundamentais em como pessoas mono e não mono vivenciam e interpretam esse sentimento, há um lugar em que, em algum momento, todos colocam seus ciúmes: o de algo indesejado.
A monogamia é um sistema que tem regras bem definidas sobre como devemos nos sentir e reagir nas situações em que nos deparamos com o ciúme. Seguindo esse script, não raramente vemos pessoas cerceando a liberdade* daquelas com quem se relacionam para que possam, assim, se sentir mais seguras, dando adeus a esse desagradável sentimento com o qual tiveram que coexistir de forma totalmente forçada. Aqui, a responsabilidade está na outra pessoa e, portanto, a solução do problema também. Ao cessar determinado comportamento, o outro, além de me salvar desse sentimento, ainda comprova que me ama verdadeiramente, mesmo que para isso seja necessário abrir mão de coisas que considera importantes, como estar com certas amizades, frequentar um lugar específico ou usar aquela roupa que me deixa enciumada.
Em teoria, a não monogamia se colocaria de forma diferente diante dos ciúmes, nos convidando a vê-lo com naturalidade. Essa emoção, assim como tantas outras, seria uma oportunidade de aprendizado sobre mim e sobre as minhas relações e, mesmo sendo minha responsabilidade, eu teria a possibilidade de acolhê-la de forma segura, com o apoio da minha rede. Na prática, leva tempo para construir novos significados para aquilo que experienciamos por boa parte da vida de outra forma, e esse processo pode ser ainda mais difícil quando se carrega a ideia de que, para início de conversa, uma boa pessoa não monogâmica sequer deveria estar sentindo ciúmes.
É impossível aprendermos sobre uma emoção que não reconhecemos ou validamos, sendo esse provavelmente o primeiro passo para acolher um sentir considerado desafiador. Não existe sentimento errado, porque o que sentimos é meramente um reflexo daquilo que experienciamos, mas é possível que você não goste de como reage a uma emoção, e essa é uma relação que pode ser trabalhada, se for algo que deseja fazer. Com tempo, dedicação e, se necessário, um pouco de ajuda, é possível desenvolver ferramentas para que seu ciúme seja apenas mais uma emoção, parte de suas experiências, mas não o centro delas.
O que seu ciúme te ensina sobre você?
Quando me permito sentir o ciúme de forma honesta, me dou a chance de aprender sobre meus limites e necessidades e de acolher esse sentimento, por mais desafiador que possa parecer. Ao invés de me julgar quando ele aparece, posso observar o que ele traz e como reajo a isso. Quais outras emoções surgem? Me percebo insegura, tenho medo, sinto raiva? Preciso de um tempo para me acalmar e me organizar ou gosto de ser acolhida o mais rápido possível em momentos difíceis? São tantas as perguntas que podem ser feitas para pavimentar o seu caminho de autoconhecimento, se você tiver curiosidade.
Enquanto busca saber mais sobre si, dedique um tempo para observar o seu corpo. Como ele reage quando está se sentindo assim? O que precisa fazer para se regular? Atividade física, um banho relaxante ou até mesmo um abraço podem ser aliados poderosos nos momentos em que precisamos de cuidado e acolhimento. A única forma de saber o que pode te ajudar a se sentir segura é se permitir acessar, de forma verdadeira, essa emoção e, a partir disso, testar novas formas de experienciá-la.
Lembre-se!
Acolha o seu corpo antes de prosseguir, não precisa ter pressa
Quando começamos a ter mais curiosidade sobre nossas emoções, é comum tentarmos racionalizar e justificar as emoções que sentimos. Por mais importante que seja entender o que está acontecendo, em um primeiro momento te convido a acolher o seu corpo: tire um tempo para respirar, tome um banho, faça alguma atividade física ou converse com alguém. Testar coisas diferentes pode te ajudar a descobrir o que funciona para você.
Nem toda emoção é fácil de ser acolhida, e tá tudo certo
Algumas emoções podem ser mais desafiadoras para você do que outras, e isso não precisa ser um problema. Com tempo e cuidado, você pode aprender mais sobre como se acolher nesses momentos, fazendo com que eles não sejam tão desgastantes.
Você não tem que enfrentar tudo sozinha, conte com a sua rede
Se sentir que precisa de ajuda para lidar com suas emoções em algum momento, não tenha medo de contar com a sua rede, você não tem que lidar sozinha com tudo! Converse com quem você confia, busque ajuda profissional, faça parte de comunidades que acreditem no mesmo que você. É importante se sentir acolhida pelo caminho.
Não sentir ciúme não te faz evoluída
E sentir ciúme não te faz “desevoluída”, certo? O ciúme é uma emoção que faz parte da experiência de ser humano, algo natural. O importante é que você reflita sobre como gostaria de se relacionar com esse sentir e vá, aos poucos, traçando o seu próprio caminho.
Nem tudo que é difícil é ciúme
Dentro de uma relação, você vai se deparar com diversas emoções que podem te desafiar de alguma forma, e nem tudo será ciúmes. Ter curiosidade para investigar como está se sentindo, ao invés de se esconder tão rapidamente em padrões já conhecidos, pode te ensinar coisas novas sobre você.
*Cercear a liberdade é um jeito chique de dizer que, para se sentir mais segura diante do ciúme, uma pessoa impõe limites ou acordos que vão contra a liberdade, o desejo e a autonomia de sua parceria.
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Thata Varges
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